Texto da “folha de sala” | exposição

As cidades, como os sonhos, são construídas de desejos e de medos, embora o fio do seu discurso seja secreto,

as suas regras absurdas, as perspetivas enganosas, e todas as coisas escondam outras.

[Italo Calvino, As cidades Invisíveis]

Integrada no eixo de programação PÓLIS, a exposição 4D – A Cidade Invisível assume-se como fragmento de um caleidoscópio de atividades que inclui uma oficina exploratória, uma incursão (stalking) fotográfica, um debate, e conversas (in)dizíveis. Um dos seus objetivos é servir de mote ao debate organizado por João Seixas, e cujo contributo se materializa na constelação fotográfica singular, produzida pelo coletivo de participantes no projeto.

O invisível produz cidade, desde o seu próprio princípio. É efeito do visível, mas sobretudo dos vários motos da invisibilidade – os sonhos, os desejos, os medos. Habita a cidade tanto pelo seu exterior construído, como debaixo das suas várias peles.

Os fantasmas andam à solta nas várias escalas que compõem o micro e o macro deste mundo. Dos irrepresentáveis fluxos financeiros da globalização tardia às abstrações que circulam pela nossa consciência, múltiplos são os invisíveis que em nós se incorporam, sem que nos apercebamos plenamente.

4D – A Cidade Invisível é um projeto fotográfico de índole participativa, aberto aos cidadãos e visitantes de Viseu. Um processo que procurou os territórios e fluxos que normalmente se furtam à perceção mais corrente e consciente da vivência quotidiana – em si mesma já assombrada por imagens hipermediatizadas e fantasmáticas – onde os fotógrafos estiveram atentos às possibilidades de cartografar o (in)visível e construir passagens entre a materialidade concreta da urbe e a poética da polis.

Nesta viagem, temporalmente curta mas possivelmente infinita nas suas geografias recônditas, passámos por diversos lugares de Viseu tão distantes entre si como podem ser o Museu Grão Vasco e o antigo Matadouro Municipal; a muralha Romana subterrânea ou um prédio devoluto agora reanimado pela energia vital dos Jardins Efémeros.

A maioria destas imagens são de interiores: de habitações, de sítios arqueológicos ou de instituições culturais; neles pretendíamos vislumbrar uma certa “estranheza familiar” (uncanny) e, consequentemente, a emergência de imaginários alternativos e de representações heterodoxas. Perseguimos metáforas espectrais numa tentativa de promover a reflexão em torno da construção das realidades invisíveis que impregnam a vida social da cidade e em simultâneo promover perceções (des)assombradas.

Apesar desta exposição ser uma (a)mostra daquilo que os olhares individuais e subjetivos registaram durante um dia e meio de incursões fotográficas, é possível firmar a visão de um “fazer cidade” alimentado simultaneamente pelo sentido de pertença e pelas heterotopias que fabricam a realidade a cada momento.

A exposição encontra-se repartida em três núcleos que, de algum modo, se podem incluir na mesma topografia:

    • O Bairro1

    • Antigo Matadouro / Oficina Abandonada / Prédio Devoluto

    • Muralha Romana Subterrânea / Reservas do Museu Grão Vasco

FOTÓGRAFOS

Ana Santos

Artur Matos

Carina Martins

Cristina Nogueira

Fernando Rodrigues

Isabel Rodrigues

Joana Coimbra

José Crúzio

Liliana Oliveira

Marta Matos

Agradecimentos

Foto Batalha

Museu Grão Vasco | Dr. Agostinho Ribeiro

 Arqueólogo Pedro Sobral

http://www.jardinsefemeros.pt/post-polis-4d.html

1Nota: as fotografias de «O Bairro» constituem uma exceção cronológica, i.e., foram registadas previamente à data da realização da «incursão (stalking) fotográfica. Contudo, devido à existência de autonomia dos participantes na captura das imagens e escolha dos lugares, considerou-se pertinente a sua inclusão..

Apresentação e programa global

4D ENTRADAS NA CIDADE INVISÍVEL

João Seixas e Rui Matoso

 

«As cidades, como os sonhos, são construídas de desejos e de medos, embora o fio do seu discurso seja secreto, as suas regras absurdas, as perspetivas enganosas, e todas as coisas escondam outras.» [Italo Calvino, As cidades Invisíveis]

O invisível produz cidade, desde o seu próprio princípio. É efeito do visível, mas sobretudo dos vários motos da invisibilidade – os sonhos, os desejos, os medos. Habita a cidade tanto pelo seu exterior construído, como debaixo das suas várias peles. Molda esse território oculto a que Walter Benjamin designou como o “inconsciente óptico”.
4D – ou quarta dimensão – procura entrar e explorar na produção urbana invisível, dos territórios e fluxos que normalmente se furtam à perceção mais corrente e consciente. De que forma? Recorrendo às imagens espectrais. Estas assinalam de que forma o ser humano se relaciona com os seus duplos e Janus, individuais e coletivos. No cinema, na fotografia, na literatura, proliferam propostas dessa aparente estranheza que pode coabitar com a mais prosaica familiaridade. As artes produzem e capturam imagens espectrais, fantasmas urbanos, os espíritos secretos dos lugares.
4D é um projeto de índole participativa, aberto aos cidadãos e visitantes de Viseu, com a finalidade de criar um arquivo de registos fotográficos e audiovisuais, uma exposição coletiva e uma instalação urbana. É também um processo: que promove a abertura de novos olhares e a descoberta da aparente “estranheza”, do imprevisível e do mistério da cidade. Que promove, portanto, o maior conhecimento – e reconhecimento – do que é a cidade. Visa criar mecanismos de captura visual das invisibilidades urbanas e em simultâneo promover perceções (des)assombradas das realidades invisíveis que impregnam a vida da cidade, mobilizando para isso a atenção perante o contexto da urbe e dos seus lugares, da sua vida social, cultural e dos seus fluxos.

1) OFICINA EXPLORATÓRIA | IMAGENS DA CIDADE INVISÍVEL E IMPREVISÍVEL

Por João Henriques e Rui Matoso

Local | Rua D. Duarte, 51

Horário | 11 de Julho – 10h00 às 13h00 e 14h30 às 17h30 Sessões |Duração | 6h

Público-alvo | Participantes e colaboradores no projeto.

Nesta oficina pretende-se explorar e introduzir os participantes ao mundo das imagens que trabalham o invisível, as fantasmagorias, a cidade espectral. Uma viagem ao universo misterioso da fotografia e das imagens que ao longo da (nossa) história, nos re-conectam com o invisível – e, algumas vezes, com o imprevisível. Iremos também desvendar os mecanismos óticos e as suas técnicas (lanterna mágica, fantasmascópio, Zootrópio, Taumatrópio, …)

>> Inscreva-se para participar no projecto 4D ENTRADAS NA CIDADE INVISÍVEL

Através do seguinte formulário online: http://www.jotformeu.com/form/41803129426350

 


 

2) INCURSÃO (stalking) FOTOGRÁFICA E VIDEOGRÁFICA

(deslocação aos lugares e registo das imagens)

Local | Rua D. Duarte, 51 (partida)   Horário | 12 de Julho – 9h30 às 19h30 com intervalos

Neste dia faremos uma visita a diversos lugares da cidade de Viseu, a um conjunto de “zonas imprevisíveis” da cidade: lugares religiosos; lugares museológicos ; habitações privadas, lugares de prazer; túneis na cidade, túneis subterrâneos , lugares de morte , ruas e becos misteriosos, espaços de fluxo e mobilidades, vazios urbanos; ruínas industriais; edifícios devolutos; lixeiras, prédios em construção, etc.

>> Inscreva-se para participar no projecto 4D ENTRADAS NA CIDADE INVISÍVEL

Através do seguinte formulário online: http://www.jotformeu.com/form/41803129426350


 

3) EXPOSIÇÃO COLECTIVA “4D – A CIDADE INVISÍVEL”

Local | Largo Pintor Gata

Produção e montagem | 13 > 15 de Julho

Inauguração | 15 de Julho – 21h30

A partir do conjunto de fotografias e filmes criados pelos participantes será produzida uma exposição coletiva, a qual será dinamizada através de um conjunto de atividades complementares:
3.a) VISITAS GUIADAS / Local | Casa da Farmácia Pinto, Largo Pintor Gata / Horário | 17 e 18 de Julho – 18h00 às 20h00

3.b) CONVERSAS (IN)DIZÍVEIS / Local | Farmácia Pinto, Largo Pintor Gata / Horário | 15, 16 e 17 Julho – a partir das 21h30

Conversas aberta a todos e em especial aos participantes em torno das imagens espectrais e da cidade invisível (fotografia e cinema)

>> Inscreva-se para participar no projecto 4D ENTRADAS NA CIDADE INVISÍVEL

Através do seguinte formulário online: http://www.jotformeu.com/form/41803129426350


 

4) OFICINA | FAZER FANTASMAS

Local | Casa da Farmácia Pinto, Largo Pintor Gata /  Horário | 18 e 19 Julho, das 16h às 18h

Público-alvo | Crianças 9 > 12 anos

Vamos criar dispositivos óticos e mecânicos que permitam a criação de imagens fantasmagóricas, para assustar os adultos mais medrosos e depois chamar os caça-fantasmas.


 

5) INSTALAÇÃO URBANA FANTASMASCÓPIO

Dispositivo audiovisual de projeção de imagens espectrais no espaço público.

Local | Largo Pintor Gata /  Horário | 14 > 19 de Julho a partir das 21h30

Durante as noites quentes de verão, num jardim ou praça pública, surgem fantasmas, espectros e outras misteriosas assombrações. São presenças irreais, de um mundo invisível e paralelo, regressadas por instantes à cidade, e que por isso mesmo requer a presença de todas as energias e possibilidades do humano.

 


 

6) DEBATE | SOBRE A CIDADE INVISÍVEL

João Seixas, Mário Alves, Pedro Campos Costa, Rui Matoso, Sandra Oliveira

Local | Rua D. Duarte, 60

Horário | 16 de Julho – 18h30